quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Vi e não vi

“Meu Deus... olha o que você me fez, e olha o que me aconteceu... Tudo se perdeu, tudo desandou... Agora não vai mais emendar o que se quebrou...”
“Tudo se Perdeu”, Paula Toller.

Aquela onda de sentimentos estava viva. Veio das profundezas, com a mesma força, o mesmo ímpeto, de antes. Algo que aconteceu há tanto tempo, que se afogou, que morreu... Não morreu. Pelo menos não totalmente.

Não.
É a negação de tudo que foi criado. O que foi criado é apenas uma barreira.
Não.
É a negação do que se sente e do que se pensa sentir.
Não. Não, não e não.

Fico me perguntando se isso é unilateral. Conversei com alguns amigos e eles me disseram que também acontece com eles.
É triste que as coisas tenham terminado assim. Ah, não quero lamentar isso outra vez. Eu só queria saber se isso, afinal de contas, foi unilateral. Não por esperança. Apenas para saber... Talvez me deixe mais feliz.

Eu não tenho o que escrever. Só tenho o que sentir. Se eu pudesse retirar isso de mim e colocar aqui... E deixar aqui... O que ficaria em mim?
Eu só queria saber se isso foi unilateral.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Duas questões

Há duas questões que não me saem da cabeça. Eu preciso falar sobre elas.

A semana que passou foi boa, prazerosa e divertida. E tensa. Tensa porque mais uma vez eu me deparei com meu velho conflito. Mais uma vez eu senti aquele “algo” incômodo, a quem não sei dar nome, mas que sei que é fruto do encontro, da mistura, de um certo puritanismo com uma certa libertinagem.
Sou uma pessoa estranha. Viver isso que eu chamo de puritanismo é agradável, é calmo. Permite que a vida seja previsível. Mas isso cansa, isso sufoca, às vezes. E então vêm o desespero e a frustração. Quando reúno coragem suficiente para pôr os pés (ou melhor, um só pé) na libertinagem, o problema é outro. Isso que eu chamo de libertinagem não tem calmaria, não há limites, não há previsibilidade de nada. Eu não sei o que fazer com ela. Ou melhor, eu não sei como lidar com ela.
A mistura do puritanismo com a libertinagem faz parte de mim e me faz sofrer. O puritanismo e a libertinagem me confundem, eu me sinto desnorteado. Eu me sinto estranho, vazio, culpado (de quê?) e triste. Triste porque não sou nem de um nem de outro. Eu não pertenço nem ao puritanismo, nem à libertinagem.
Esse ambiente sem rotina, louco, alucinadamente feliz, esse ar lascivo, onde tudo parece (e é) uma caça, isso me assusta, mas eu quero isso. E depois não quero. Eu coloco um pé na libertinagem e logo quero voltar ao puritanismo.
Talvez o problema seja minha incapacidade de criar fronteiras, ou de ver as coisas de outra forma. Ou que não consiga ou não saiba dançar conforme a música.
Mas pode ser também um problema conceitual. Talvez eu não tenha bem definidos meu puritanismo e minha libertinagem. Mas como defini-los se eu não sei me definir? Como já disse, eles são parte de mim.
Pensando bem, talvez não sejam totalmente parte de mim; eles parecem ter uma dimensão social. Talvez as pessoas à minha volta sejam puritanas ou libertinas demais.
Eu não consigo chegar a nenhuma conclusão. Talvez a própria concepção de mim sob essas duas dimensões seja um equívoco.
Enfim, passemos à segunda questão: por que nós nos importamos justamente com as pessoas que estão cagando para nós?

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Acredite em mim

Acredite em mim quando eu te digo que não poderemos resolver muitos dos nossos problemas. Acredite quando digo que a vida é cruel, porque ela realmente é. Mas isso não é de todo ruim. A crueldade da vida nos move. Por ela ser cruel, nós lutamos. Nós tentamos, tentamos e tentamos. Estou tentando, agora.
Acredite quando eu te falo que a busca pela felicidade é árdua, que muitas vezes ela nos aparece como um oásis, como uma meta final, que nunca alcançaremos. Nossas vidas são uma eterna busca.
Entenda que a felicidade talvez não exista. O que vejo existir é a dor, a agonia, o vazio. Nossa natureza se constitui do vazio e dele se alimenta. A humanidade representa nada mais do que uma tentativa desesperada de preencher esse vazio, de mascarar a dor constante com momentos de felicidade. Felicidades. Encare a verdade. O ser humano é feito de sofrimento.
Por favor, acredite em mim. Falo agora em outro sentido. Acredite em mim, dê-me uma chance. Não me olhe assim, não me censure. Deixe-me tentar mostrar que sou capaz, que posso fazer a diferença. Dê-me sua mão. Quero sentir seu abraço, mesmo que você sangre com meus espinhos. Por favor, acredite em mim.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Por que não falamos dela?

“* EIS UM PEQUENO FATO *
Você vai morrer.”
“A menina que roubava livros”, Markus Zusak.

É assim que a Morte começa a contar a história. Antes de tudo, ela quer deixar bem claro ao leitor o quanto os dois estão próximos, o quanto aquela história pode ser familiar.
Fato é que a maioria das pessoas evita pensar na própria morte, pelo menos conscientemente. Eu me incluo nessa maioria. Tenho horror só de pensar no pensar da minha morte. Quando criança, eu tinha medo não somente de morrer, mas morrer com dor. Hoje, meu medo não se resume ao medo da dor, meu medo é o medo do fim. Como disse há alguns dias, medo do fim vazio. Pense bem, a qualquer momento você não existirá mais. Sua história acabará, e o mundo continuará. Talvez você seja lembrado, talvez não. Talvez sua existência tenha tido alguma importância, talvez não. E o que vem depois? Ah, sim, aquela velha pergunta. Existe vida após a morte? Se for a vida prometida pela Bíblia, muito obrigado, não quero. O céu é perfeito demais, e o inferno é desesperador demais. Não há equilíbrio em Deus. Nem no diabo.
Às vezes fico imaginando o inferno citado na Bíblia. Deus do céu, imagine, sentir todo seu corpo em brasas, por toda a eternidade. É preciso uma força sobre-humana para não se deixar afligir por essa imagem, ainda mais quando a enfiam na sua cabeça desde pequeno.
Problema maior é decidir quem vai para onde. Os judeus do Velho Testamento foram para o céu? Todos os gentios dessa época foram para o inferno? Depois de Cristo, só foram para o céu os que acreditaram nele? E quanto aos povos que não conhecem as boas-novas, eles vão para o inferno sem ter o direito de escolha, sem ao menos saber que existe um céu e um inferno cristãos? Talvez algum teólogo, padre, pastor, alguma merda dessas, responda que eles foram para o céu, mesmo não aceitando Cristo, por não terem ouvido as boas-novas, e por isso serem inocentes. Ora, a partir do momento que eu conheço Cristo, tenho que aceitá-lo. Senão irei para o inferno! Então, é melhor nunca ter ouvido falar dele, pois assim não arriscarei minha salvação! Cristo, por acaso, é a árvore do conhecimento, aquela árvore do jardim do Éden, do fruto proibido? Cristo nos leva para o inferno?

Afinal, existe vida após a morte? O que é a morte?

Ninguém escapa dela. É por isso que as histórias de ressurreição impressionam tanto. A ressurreição. O retorno.
Grandes homens e mulheres, grandes pensadores, que mudaram a história, se curvaram diante da morte. Muitos até a procuraram. Sim, suicídio.
Outra questão que me impressiona. O que leva uma pessoa a tirar a própria vida? Como disse no início, as pessoas não pensam na própria morte, conscientemente. Mas todos fantasiam a própria morte. Nossa morte está viva em nosso inconsciente. Todos nós somos, num certo grau, suicidas.
É melhor eu parar de escrever essas coisas. Você deve estar assustado, ou incomodado, com essas palavras. Vou parar, prometo. Só mais uma coisa: se o que está escrito aqui te incomoda, é porque, de alguma forma, isso tem relação com você.