sexta-feira, 25 de junho de 2010

A verdade dos olhos

Por que escolhemos sempre o caminho mais longo e mais difícil? Pergunta complicada, essa.
Antes, referia-me à escolha profissional. Hoje, refiro-me a tudo. Por que, por exemplo, as pessoas escolhem não ser aquilo que são, ou esconder algo delas, como se esse algo não fosse parte delas?
Talvez eu esteja errado, talvez ele seja apenas “mente aberta”. Mas a bendita psicanálise do senso comum me faz suspeitar de que aí tem coisa. Há algo por trás dessa fala, algo provavelmente mal resolvido. Será medo? Ou ódio contra si mesmo?
Se eu estiver certo a respeito dele, ele é o primeiro a conseguir esconder a verdade dos olhos. E ele tem belos olhos. É como dizem os estudiosos da mentira: você vai contar sua verdade, de um modo ou de outro.
Eles são rápidos, ágeis, espertos. Os olhos dizem tudo. Um segundo e tudo aconteceu. Um segundo e mil palavras foram ditas, em silêncio. Nós, na condição de minoria e, para alguns, de “anormais”, desenvolvemos certa habilidade em ler os olhos uns dos outros, e assim nos identificamos. Nós nos reconhecemos em meio à massa normativa e opressora. Mas eu sou muito atrapalhado com meus olhos e os das pessoas. Meus olhos são fracos, são tolos. Eles fogem dos outros olhos, eles se escondem. Às vezes uso os olhos, mas fico apenas com os olhos.

Falando nisso, uma pessoa com olhos foi assassinada por pessoas sem olhos.

domingo, 20 de junho de 2010

Ainda sou jovem


Muita alergia. Poucas horas de sono. A expectativa foi grande. A ansiedade também. O medo nem se fala. Insegurança. Mas é aquela insegurança profunda, é algo como “o que estou fazendo aqui?”. Tantos imprevistos que parece que as coisas conspiram para dar errado. Mas aprendi a usar o imprevisto a meu favor. O imprevisto se tornou previsto. Mas o que eu não esperava era ver algumas pessoas saindo da sala no meio da apresentação. Será o tempo apertado? Ou será esse tema polêmico?
“Vá se acostumando”, ela disse. Acostumar-me? Mas nem sei se é isso que quero. Estou tomando outro caminho, quase sem querer. Um caminho não esperado, tenso, inseguro, que não me é prático, e eu tenho mania de prática. Talvez as duas escolhas sejam um erro. Ouvindo tanta gente falar, aqui, eu fico perdido e entediado. Às vezes não entendo o que essa gente fala. Dois mais dois é igual a quatro, e pronto.
“Pare de ficar deprê, você é velho.” Não estou deprê, estou bem, só estou aqui, no meu canto, você é que está me irritando com essa sua tentativa de parecer algo que não é. Você não sabe o que é a noite. Pare de falar por alguns minutos, por favor. “Freud explica”? Gosto de você, mas agora quero que você e Freud se encaminhem para a puta que pariu.
Talvez a preferência por uma aparente praticidade e pelo supostamente certo e imediato retorno financeiro venha de uma cultura familiar, de certo modo de criação. Junto a essa preferência, está a idéia de que minha vida é curta demais para trilhar mais de um caminho e que escolher o trajeto errado é, portanto, um tempo perdido ou, mais do que isso, uma vida perdida. Contudo, num insight, me deparo com o fato, a evidência, de que ainda sou jovem, ainda tenho muito que viver e, portanto, tenho tempo e direito de trilhar caminhos errados.
Sim, por mais velho que às vezes possa parecer, eu sou jovem. E me sentindo jovem, torna-se mais leve o fardo do erro.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O sol


“Já cansei de me trancar, vou me atirar... já cansei de me prender. Quero aparecer, aparecer...” “Eu quero ir pra rua”, Paula Toller.

Muito frio. Naquele último dia, eu precisava sair. Eu precisava aproveitar o resto de sol, um sol que parecia se despedir; parecia dizer que não voltaria tão cedo.  Não havia por que ficar trancado. Que vida é essa? Não poderia mais ficar ali, escondido, “produzindo” coisas que poderiam esperar para serem “produzidas”. Ficar tanto tempo trancado não é bom. O sol estava se despedindo. Quem sabe pra sempre. Eu tinha que sair um pouco.
Coloquei um casaco, peguei uma revista e saí, correndo na direção da praia, contando os minutos. Ele vai embora a qualquer momento. Ruas frias, vazias, tristes. Encontrei o sol na praia, fraco, mas não o bastante para me aquecer. Eu precisava muito de você, sol. Eu precisava muito desse ar de fora. Sentei num banco de pedra em frente à praia de Icaraí e comecei a ler minha revista, algumas vezes reparando os poucos transeuntes e pensando na vida. Só depois de um tempo olhei para o outro lado da Bahia e reconheci o Pão de Açúcar, tão imenso, tão belo. Olhei para toda a extensão da praia até o Museu e a ilha de Boa Viagem. É engraçado como um momento tão bobo e comum pode, tão de repente, significar algo tão bom.

Como pode um fato isolado e sem importância se tornar um momento de felicidade rara e repentina? 

Eu voltei passando mais uma vez pelas ruas frias e mortas. Olhando para as vitrines, admirando as coisas que jamais poderia comprar. Fazendo contas. Preciso de roupas. Estou endividado. Enfim, nada é perfeito.

Que a vida seja feita de momentos assim. E que esses momentos não sejam esquecidos. É tudo que desejo.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Múltiplo


Eu vou para BH. Eu tenho que estudar, eu tenho que me preparar, eu tenho compromissos. Eu quero dinheiro. Eu não quero estudar, eu quero me divertir. Eu não quero me divertir, eu quero surtar. Eu não quero surtar, eu vou ficar doente, eu sinto que vou. Eu senti hoje. Eu não sei o que quero, só sei que tenho que continuar com isso. Não, eu quero parar. O que vou fazer? Não sei. Eu não quero fazer nada. Eu não quero nada. Eu não quero querer, não quero escolher. Estou perdido, não quero escolher. Não quero ter que escolher outra vez, não quero ficar indeciso outra vez, não quero me arrepender, não quero sofrer. Não quero ser feliz demais, nem quero ser idiota. Não quero ser incongruente. Não quero ser sem-noção. Tanta coisa pra fazer... Minha cabeça e meus olhos doem, minhas mãos estão trêmulas. Meu coração bate rápido, vou ter um infarto. Ansiedade. Escrevo tão rápido que perco o controle. Controle, controle, controle, é demais pra mim. Acho que preciso matar alguma coisa pra me sentir melhor. Estou perdendo tempo...
Eu tenho preguiça. Eu quero sair daqui... Quero sair agora, agora... Inferno. Odeio todos vocês. Sinto saudade. Quero ir embora daqui. Tenho inveja. Nunca estou satisfeito. Eu quero mais. Não, não quero. Que fique tudo parado, imóvel, congelado no tempo. Eu estou envelhecendo. Vou morrer. Terei um fim.
Afastei-me e continuarei assim. Será assim agora. Isso é o normal. Dói mas tem que ser assim. Não vou dar o que não recebo. O que você está tramando? Eu não sou PH, caralho! BH não é PH.
O silêncio é um problema, mas é conveniente. Franqueza dói, incomoda. Vamos fingir que está tudo bem, que eu não falei nada. Merda.
Estou esperando alguém me ligar, mas alguém sumiu. Eu não queria mesmo. Ele tem namorado. Foda-se.
FODA-SE TUDO!!! 

E depois disso tudo, eu volto à minha normalidade...