sábado, 27 de março de 2010

Sr. Tédio

Não tenho o que escrever. Hoje, sou o tédio e a ressaca em pessoa.

Quem sabe na próxima semana.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Leitura literal e seletiva

Segue um interessante texto copiado de um blog (que, por sua vez, também copiou de outro blog). Não sei se a história contada no início é verdade, mas não importa. O texto é uma crítica bem humorada à maneira como se tem lido a Bíblia, ultimamente. O texto está em português de Portugal.
 

A Dra. Laura Schlessinger, é uma estrela de rádio nos EUA (onde mais poderia ser), tendo um programa onde dá conselhos aos ouvintes e onde faz acérrimas críticas aos comportamentos e estilos de vida que considera imorais, entre eles o aborto, as uniões de facto e a homossexualidade. Invoca passagens da Bíblia para justificação da imoralidade. Assim depois de ter utilizado uma citação de Levítico 18:22, que diz que a homossexualidade é uma abominação e não pode ser perdoada em qualquer circunstância, um cidadão americano escreveu-lhe uma carta aberta, a dizer o seguinte:

Cara Dra. Laura,

Obrigado por tanto fazer para ensinar o nosso povo a viver de acordo com a "Lei de Deus". Eu aprendi muito a partir de seu programa, e tento compartilhar esses conhecimentos com o máximo de pessoas que consigo. Quando alguém tenta defender o estilo de vida dos homossexuais, por exemplo, eu simplesmente relembro-lhes que Levítico 18:22 define, sem margem para dúvidas que isso é uma abominação. E discussão acabada. Entretanto, eu preciso de esclarecimentos sobre algumas outras leis bíblicas e dos seus conselhos para segui-las:

a) Quando queimo um bezerro num altar como sacrifício, sei que isso cria um odor agradável ao Senhor (Lev. 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor lhes é desagradável. Devo matá-los por heresia?

b) Pretendo vender a minha filha como escrava, como permitido em Êxodo 21:7. Na sua opinião, hoje em dia qual seria o preço justo por ela?

c) Eu sei que não posso ter contacto com uma mulher menstruada, porque ela se torna impura por sete dias (Lev. 15:19-24). O problema é como saber se ela está ou não menstruada. Eu até já tentei perguntar, mas a maioria fica ofendida com a pergunta.

d) Segundo Lev. 25:44, eu posso possuir escravos, tanto homens como mulheres, desde que sejam comprados nas nações vizinhas. Um amigo meu afirma que isso só se aplica aos Mexicanos, não aos Canadianos. Poderia esclarecer-me? Por que razão não posso ter escravos Canadianos?

e) Tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos Sábados. Em Êxodo 35:2 está escrito claramente que ele deveria ser condenado à morte. Eu estou moralmente obrigado a matá-lo?

f) Um amigo meu acha que embora comer crustáceos seja uma abominação (Lev. 11:10), é menor que a homossexualidade. Eu discordo que possa existir uma escala que classifique pecados entre mais e menos graves. Caso a doutora concorde com o meu amigo, seria possível preparar uma tabela para medir os graus das abominações? Se a tiver, por favor coloque uma cópia no seu sítio na internet, para que eu possa consultar. Pelo que sei, abominação é o mesmo termo usado tanto em Levítico 11:10 como em Levítico 18:22. Pode tirar-me esta dúvida?

g) Lev 21:20 declara que eu não posso aproximar-me do altar de Deus se possuo um defeito na visão, pois nenhum homem que tiver algum defeito se chegará ao altar do seu Deus: Como homem cego, ou aleijado, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos, ou que tiver o pé quebrado, ou a mão quebrada, se for corcunda, ou anão, ou se tiver sarna, ou impigens, ou quem tiver um testículo quebrado; etc. No meu caso, tenho que admitir que uso óculos de leitura. A minha visão teria de ser absolutamente perfeita para me aproximar do altar?

h) A maioria de meus amigos barbeia-se e corta o cabelo, inclusive com preocupações estéticas, embora isso seja expressamente proíbido (Lev. 19:27). Como é que devem ser mortos?

i) Segundo Lev. 11:6-8, se eu tocar na pele de um porco morto ficarei impuro. A bola de Futebol americano é feita de pele de porco, mas será que posso jogar Futebol americano se usar luvas?

j) O meu tio tem uma quinta. Ele contraria o que é determinado em Lev. 19:19 ao plantar dois vegetais diferentes no mesmo campo. O mesmo acontece com a sua mulher: usa roupas feitas de dois tipos de tecidos diferentes (mistura algodão com poliéster). Ele também tende a maldizer e blasfemar. Para puni-los será mesmo necessário o transtorno de ter que juntar toda a cidade para apedrejá-los? (Lev. 24:10-16). Não poderíamos simplesmente queimá-los até a morte, já que esta é uma questão de família, como é o caso das pessoas que dormem com parentes?

Eu sei que a doutora estudou essas questões a fundo, então estou confiante que pode ajudar-me com os seus sábios esclarecimentos.Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável.

Seu discípulo e fã.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Saudade

“Homesick... ‘cause I no longer know where home is.” “Homesick”, Kings of Convenience.

Enquanto assistia a cerimônia do Oscar, uma coisa me impressionou, me chocou. Vi algo que me tocou de tal forma que não consigo pensar em outra coisa.
“Which Way Home” era um dos indicados a melhor documentário em longa metragem. É um filme que mostra a jornada de crianças desacompanhadas que tentam atravessar ilegalmente a fronteira do México com os EUA. Em uma das cenas exibidas havia um menino, cerca de dez anos, chorando. Uma mulher pergunta há quanto tempo ele não via a mãe. Ele responde em espanhol, com a voz quebrantada: “Há três anos”.
Aquilo mexeu tanto comigo que não consegui prestar mais a devida atenção à premiação, nem cheguei a me revoltar quando “Guerra ao Terror” levou a estatueta de melhor filme.
Por um momento vislumbrei meu futuro. E me senti bem ao me imaginar lutando por essas crianças. Eu me vi lutando por pessoas que não tem para onde ir, pessoas que são privadas de seus direitos, de sua dignidade. Eu me vi lutando em defesa de minorias. Eu senti que precisava sair do meu comodismo e fazer algo realmente útil. Já disse aqui que tenho medo da morte vazia. Tenho medo de que minha vida seja em vão, de que ela não passe de um desperdício. E, ironicamente, sinto que minha vida pode fazer algum sentido se eu me voltar à máxima cristã, para a qual, no passado, virei as costas: amar o próximo como a si mesmo. Isso é importante, muito mais importante do que se esconder atrás de um pesado livro sagrado e só dizer que a tendência é as coisas piorarem. Eu sei que as coisas vão piorar, mas isso não é desculpa. Temos que fazer algo. Eu preciso fazer algo.
Aquele menino estava num país estrangeiro, passando sabe-se lá o quê, e não via a mãe há três anos. Uma criança que não via a mãe há três anos. A dor em sua voz era quase palpável.
Também pensei em minha mãe naquela hora. Eu me dei conta do quanto eu a amo e do quanto sinto a falta dela. Queria poder vê-la, agora. Queria me desculpar por minha arrogância, por muitas coisas. Queria que ela sorrisse pra mim, que não me olhasse da maneira que imagino estar me olhando agora.

O silêncio diz tudo. O silêncio revela a dor que ela sente. E eu não posso fazer nada. Nada.

sexta-feira, 5 de março de 2010

As pessoas da sala de jantar


“Essas pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer.” “Panis et Circenses”, Caetano Veloso e Gilberto Gil.  Certas pessoas são uma representação bem próxima das ‘pessoas da sala de jantar’. Elas estão ocupadas demais em nascer e morrer. Elas são batalhadoras, sim, e como. Pensando bem, não são tão batalhadoras assim. Elas batalharam tanto para terminarem acomodadas. Elas não se satisfazem apenas com pão e entretenimento, como as ‘pessoas da sala de jantar’; elas se satisfazem com muito pão e muito entretenimento. Chega a ser nojento. O presente é o que importa. Elas simplesmente nasceram, estão comendo (e muito!) e morrendo. Morrer, aliás, é um trabalho que toma bastante tempo deles. Eles estão se matando, lentamente. Eu vejo a morte com clareza em um deles e sinto pena. Não posso fazer nada porque eles são arrogantes e burros demais. Eles não vêem que suas vidas são um total erro e não poupam saliva para falar da vida alheia. Eles se acham muito espertos, vivem alimentando seu auto-engano, dia após dia. Mas viver de maneira estúpida tem seu lado bom. Às vezes é melhor não pensar muito, porque quando pensamos muito, vemos o quanto as pessoas são idiotas, vemos que tudo é “cansável” e que nada se mantém, tudo se perde. Não existe nenhuma verdade para se apoiar. Mas também acho desesperador viver como eles. Eu não agüentaria. Mas não quero ser ingrato. Eu devo muito a essas ‘pessoas da sala de jantar’, não só por pão e entretenimento. Usando uma linguagem psicológica: a observação de um comportamento é uma das melhores formas de aprendizagem desse comportamento. Mas foi justamente observando eles foi que eu aprendi a não ser como eles.