quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pistas falsas


Por que isso? Diga-me, por que tudo isso? É possível viver sempre escondendo, “matando”, essa parte de você?

Não achava justo com você nem comigo. Apesar das evidências, não me convenci, não voltei atrás. Acredito que essas evidências eram pistas falsas, coisas propositadamente deixadas para fazer alguém (quem? Eu? Todos?) pensar que tudo está nos trilhos, conforme o esperado e o desejado. Mas nada disso me fez acreditar que cometi um equívoco. Nada disso desmente o significado de um olhar.
Você não me olhava; e quando olhava, havia um escudo. Parecia que estava se protegendo de mim. Seu medo, de tão intenso, é irracional. E por conta desse medo também crio um escudo. Mas agora quem está com medo, você ou eu? Bem, pelo menos não deixo pistas falsas... E então vou embora. Vou porque não consigo mais ficar perto de você, fingindo. E não quero mais esconder meu desejo.
E os dias passam. E percebo que algo mudou. Percebo em você que há uma tentativa silenciosa, sutil, mas possivelmente forte, de fazer o caminho inverso, de recuperar algo que se perdeu entre nossos olhos.

Estou aqui. Mas não darei mais nenhum passo. Não consigo ir além disso.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O silêncio do dragão


Depois desses anos todos aprendendo a abaixar a cabeça, só ficou o silêncio. Tudo que resta em mim é o silêncio.
Mas não há calma, não há paz. Nesse silêncio, há uma mistura de dor, medo, frustração, vergonha, mágoa, ódio. Há uma preocupante turbulência, uma sensação de que tudo irá explodir a qualquer momento. Têm aparecido vários sinais. Sinto que não consigo mais controlar meu corpo. Sinto que algo terrível irá acontecer, mas não sei direito o que é.
Não há como segurar isso, não mais. Não há como agir de modo dissimulado e deixar passar tudo. Não é que tudo me incomode. Eu simplesmente não posso falar. Agüentar tudo calado porque só tenho esse direito. Talvez pareça que exijo coisas, mas na verdade só quero estar longe, porque sei que não há como continuar assim. Sei que não há como a situação ser diferente do que está. Nada vai mudar isso. Essa situação sequer deveria existir. Reconheço meu lugar.

Mas ainda há muito pelo que passar, há muito que sofrer. Mas quando isso acabar, me transformarei num dragão. E destruirei tudo que passar pela minha frente. Não restará nada. E ficarei feliz com isso.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Nós, aqui


“Prefiero amores platónicos, consuelo de tontos solitarios. Prefiero amores impossibles, consuelo de haber perdido demasiado.” “Amores platónicos”, Julieta Venegas.

Vamos imaginar, fantasiar. Vamos pensar em outra realidade, onde não estejamos longe um do outro, onde não haja grupos ou medos capazes de nos separar. Viver e desfrutar dessa vontade, transformar o olhar em algo concreto. Vamos pensar em outro mundo, em nós mesmos, de outra forma. Sem receios, sem dúvidas, sem mentiras. Vamos compartilhar algo?

“Busco una forma de decirte lo que siento, y no encuentro la manera sin repetir lo que ya se dijo mucho antes que yo.” “Original”, Julieta Venegas.

Quero chegar mais perto, ir além do permitido. Quero esquecer as formalidades, as aparências aceitáveis, e sentir seu cheiro. Quero cantar pra você. Algo, aliás, que nunca faço. Canto bem, mas não tenho coragem. E talvez com você – e com um pouco de bebida – eu consiga fazer isso. Cantar como antes, na igreja, mas não para um deus que não existe; quero cantar para alguém cuja companhia eu desejo, aquele que quero ver todos os dias, mas não posso.
E se você estiver rindo de mim, achando tudo isso uma bobagem, uma tolice, não me importo. Pela primeira vez digo isso com convicção. Não me importo com o que você acha disso. O que importa é que eu quero isso. Desejo isso. E me sinto bem em imaginar isso. É o que me resta, é a única escolha diante de nossa covardia.

“Un lugar, para los dos, un lugar, para empezar algo nuevo, solo nuestro.” “Un lugar”, Julieta Venegas.

Sei quem é você. Tenho sua história aqui, escrita, contada, na palma da minha mão. Sei quais serão seus próximos passos. Foi assim comigo. Você é previsível. Só é uma pena que não consigamos ir além disso. A realidade me dói.

“Todo lo que quiero se me escapa de las manos, eso es lo que no quería admitir. Todo lo que quiero se me escapa de las manos, y no sé manejar lo que empiezo a sentir.” “Debajo de mi lengua”, Julieta Venegas.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Seus olhos


“Me consolo, foi errado o momento, talvez. Mas na verdade, nada esconde essa minha timidez.” “Timidez”, Biquíni Cavadão.

Enquanto o mundo passa, algo fica, algo nos liga. Algo nos faz parar. Mas daí não saímos. Aí ficamos. Nem você nem eu conseguimos prosseguir. É triste, é difícil. É um ou vários momentos únicos para sempre perdidos.
Não espere tanto de mim. Já fiz minha parte, dei o primeiro passo. Não me peça mais nada. É tão difícil para mim como é para você. O coração bate muito forte, fico sem ar, sem saber o que dizer ou fazer. Não adianta tentar ensaiar. A vida não é feita de ensaios. Queria viver alcoolizado 24 horas, tudo seria tão mais fácil...

Ela disse: “Se você estivesse bêbado, o que você faria nessa situação?”

A única coisa que posso fazer é lamentar e ter esperanças. Que contraditório... A única certeza – nem tão certa – na qual posso me agarrar é a verdade dos seus olhos. É aquilo que não saiu pela boca e sim pelos olhos. É aquele fio invisível que nos liga, aquele desejo camuflado, aquela vontade, aquilo que não tem nome.

Eu quero você. É só o que tenho a dizer.