quinta-feira, 28 de abril de 2011

Amores e telefones


“Quando ela pensa em beijar seu travesseiro, eu me viro do avesso... eu vou dizer aquelas coisas, mas na hora esqueço.” “Por que não eu?”, Kid Abelha.

O telefone toca sei lá pela milésima vez e não quero falar, não quero ouvir. Não gosto de telefone. Não gosto de ouvir essa breve ‘musiquinha’ a todo o momento e me sentir cerceado, preso. Mas talvez não queira mais saber dessas coisas de paixão. Ou talvez eu nunca tenha de fato desejado isso.
Andei refletindo e acho que a verdade é que isso não é simplesmente um trauma de amor. A solução seria simples demais e se daria sem esforços. Não é por não ter sido amado no momento certo que agora não me dou à liberdade disso. Também não creio que minha preferência seja a de amores tortuosos ou impossíveis, como pensei anteriormente. Sinto que não me deixo ser levado, que só quero o impossível porque é o impossível que me permitirá permanecer no meu canto, imóvel, num estado egoísta, quase infantil. Amar o impossível é a forma que encontrei de não amar. Amar aquilo que não se move é o que garante minha imobilidade. A verdade é que não quero amar.

How come the only way to know how high you get me is to see how far I fall. God only knows how much I'd love you if you'd let me but I can't break through it all.” “Heartbreak Warfare”, John Mayer.

Pela primeira vez, deparo-me com essa evidência, estupefato. E é curioso como um insight se segue a outro. Se o amor é uma ameaça ao meu estado imóvel e infantil, que eu possa então, para sair desse estado, me entregar; que eu possa então deixar isso acontecer, e me mover, e sair daqui, e refazer meu tempo e meu mundo. É preciso, portanto, atender ao telefone.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Soma


“I’ve been so high, I’ve been so down, up to the skies, down to the ground.” “Paradise (not for me)”, Madonna.

Meu corpo padece e não sei por quê. O suor desce por meu rosto e as lágrimas se misturam a ele. Padeço. Não há esperança de melhora, apenas uma agonia, um desejo desesperado de que isso passe, pois, afinal, o mundo não pára e eu não posso parar. Mas preciso parar, mesmo não sabendo como.
Não consigo pensar em mais nada, apenas na dor que fende minha cabeça, no incômodo do corpo quente, no nome daquela doença. Mas minhas suspeitas se voltam para outros campos, obscuros e não orgânicos.

Doutor, por favor, dê-me uma boa resposta, mesmo que ruim, dê-me algo palpável. É melhor assim, é mais fácil. A pressão é muito grande, não posso suportar. Tudo depende de mim, tudo está em minhas mãos. É uma responsabilidade muito grande para alguém que está tão pouco tempo no mundo. Meu corpo padece porque não quero continuar assim. Preciso de um apoio. O ódio e a revolta agora se voltam contra minha carne. Mas talvez seja algo além, algo além do ódio.

A morte à espreita ou apenas seu odor. Enquanto escrevo, ela se afasta. Já posso parar.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Juras por depoimento


O amor não é menos intenso se é construído...

E quanto às cores, bem, minhas cores são muitas. Uma aquarela se move dentro de mim, roda, se inverte e cria você. Elas são como as pinturas de Escher, que são absurdas, intensas e incrivelmente reais. Eu sinto você aqui, dentro de mim.

Muchos besos.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Não sei escrever poemas


Não sei escrever muito bem
Tampouco escrever poemas
Há um hiato, uma ausência deles
E isso me fez aceitar o desafio
De escrever um poema para você

Talvez o medo do tempo que corre
Talvez a crença, esperança infantil
De que algo dará certo
De que tudo melhore e sejamos felizes

Escrevo esse poema para você
Que quero e não vejo
Mas não sei escrever muito bem
Tampouco escrever poemas
Mas é tudo que posso oferecer a você
Que quero e não vejo
Não sei escrever poemas

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Um pouco de Cora


Tudo que criei e defendi
nunca deu certo.
Nem foi aceito.
E eu perguntava a mim mesma
Por quê?

Quando menina,
ouvia dizer sem entender
quando coisa boa ou ruim acontecia a alguém:
Fulano nasceu antes do tempo.
Guardei

Tudo que criei, imaginei e defendi
nunca foi feito.
E eu dizia como ouvia
a moda de consolo:
Nasci antes do tempo.

Alguém me retrucou.
Você nasceria sempre
antes do seu tempo.
Não entendi e disse Amém.

Cora Coralina, “Nasci antes do tempo.”