“Quando ela pensa em beijar seu travesseiro, eu me viro do avesso... eu vou dizer aquelas coisas, mas na hora esqueço.” “Por que não eu?”, Kid Abelha.
O telefone toca sei lá pela milésima vez e não quero falar, não quero ouvir. Não gosto de telefone. Não gosto de ouvir essa breve ‘musiquinha’ a todo o momento e me sentir cerceado, preso. Mas talvez não queira mais saber dessas coisas de paixão. Ou talvez eu nunca tenha de fato desejado isso.
Andei refletindo e acho que a verdade é que isso não é simplesmente um trauma de amor. A solução seria simples demais e se daria sem esforços. Não é por não ter sido amado no momento certo que agora não me dou à liberdade disso. Também não creio que minha preferência seja a de amores tortuosos ou impossíveis, como pensei anteriormente. Sinto que não me deixo ser levado, que só quero o impossível porque é o impossível que me permitirá permanecer no meu canto, imóvel, num estado egoísta, quase infantil. Amar o impossível é a forma que encontrei de não amar. Amar aquilo que não se move é o que garante minha imobilidade. A verdade é que não quero amar.
“How come the only way to know how high you get me is to see how far I fall. God only knows how much I'd love you if you'd let me but I can't break through it all.” “Heartbreak Warfare”, John Mayer.
Pela primeira vez, deparo-me com essa evidência, estupefato. E é curioso como um insight se segue a outro. Se o amor é uma ameaça ao meu estado imóvel e infantil, que eu possa então, para sair desse estado, me entregar; que eu possa então deixar isso acontecer, e me mover, e sair daqui, e refazer meu tempo e meu mundo. É preciso, portanto, atender ao telefone.