sexta-feira, 25 de março de 2011

Nós precisamos nos amar


“Case-se comigo, antes que eu padeça, case comigo...” “Case-se comigo”, Vanessa da Mata.

Nós precisamos nos amar. Eu preciso amar. Um último romance, uma história, uma paixão, algo capaz de me atormentar de desejo, me arrebatar, de mudar minha vida. Quero um amor de novela.
Quero ser dois e não pensar em mais nada, apenas na capacidade de poder amar mais. Amor que acorda amando, amor que dorme amando. Amar até a chance de poder amar outra vez, amar até a vida acabar. Estar longe de tudo, com esse amor, com essa verdade, sentir saudades de tudo porque deixei tudo por esse amor e valeu à pena. Amor que não pensa, apenas pulsa, lateja. Amor com seu desejo insaciável, incessante, inconformado.
Há uma necessidade disso, não sei explicar. Não consigo parar de pensar, que agonia. Quero que algo seja verdadeiro, que a ficção seja real. Que algo me derrube, me destrua e me faça nascer outra vez.

Palavras, fiquem com esse amor e me ajudem a respirar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Um momento qualquer

“It’s hard enough to see the world as it is and hold on anything without these quiet times coming round here.” “Quiet times”, Dido.

Há algo belo e atraente no feio, não sei explicar. Quando ando por essas calçadas sujas e temidas, sinto algo bom. Mais uma vez, não sei explicar. E também não entendo como que, escondido há dias nesse lugar, isolado do mundo, ainda consigo lembrar de você. Você some de meus pensamentos, mas ressurge com força. E agora, nessa casa empoeirada, sozinho, eu sinto você. Sinto sua presença, sua voz. Vejo suas palavras. Eu te sinto aqui, te imagino aqui. O mundo poderia ser nosso... É uma bobagem, eu sei, um devaneio. Mas daria qualquer coisa para ter você, de verdade, aqui. Naquela noite, quando percebi que você estava arrependido de ter saído de casa, achei graça, mas queria ter feito algo para te alegrar. Não poderia fazer nada. Não poderia te amar como quero, então me deixe pelo menos imaginar. Deixe-me criar você através de minhas palavras. Você em minha mente é tudo que posso ter.

“Now I miss you... now I want you… But I can’t have you even when you’re here.”

sábado, 12 de março de 2011

Delete


“... é um local de descarrego, a oportunidade de se livrar da raiva, do fel, do desprezo, mas também de exibir o ego, de praticar o narcisismo. Também de se praticar aquilo que não se é (...), de endossar um disfarce, como as crianças, que permita argumentar a não realização do mundo real em favor de um universo virtual que não obedece outra lei senão a do capricho pessoal (...). Um gênero de ‘cloaca máxima’ como existia na Roma antiga para drenar o esgoto, um canal destinado a conduzir as imundices de uma sociedade (...).” Michel Onfray, filósofo francês, sobre as mídias sociais.

Nessa semana refleti sobre minha vida virtual. E sobre a efemeridade das relações, sejam elas virtuais ou não.
Depois de muitos problemas – alguns graves – relacionados ao uso de redes sociais na Internet (Orkut, Facebook, Twitter e esse bendito blog), dei-me conta de como nos expomos para os outros e de como esse narcisismo inflado pode nos trazer prejuízos quase irreversíveis.
Qualquer comentário bobo e fútil torna-se importante, precisamos divulgá-lo. Qualquer foto é peculiar, precisamos expô-la. Precisamos mostrar que saímos à noite, que bebemos, que dançamos, que somos cultos, bonitos, ricos e felizes. Precisamos avisar que vamos ao banheiro, que não gostamos do último filme com a Natalie Portman e que a música nova da Lady Gaga é uma cópia descarada de uma música da Madonna. Precisamos descarregar nossa raiva, xingando e ofendendo deus e o resto do mundo.
O que há de comum em todas essas exposições desnecessárias? O que há de comum em todo esse lixo virtual? A grande maioria das coisas que publicamos na rede é exposta por impulso. Nossas fotos são publicadas por impulso, nossas palavras são postadas por impulso. Nossa vida em rede é um impulso. E por ser um impulso não nos diz tanto respeito. O personagem que aparece nesse blog, por exemplo, é só uma parte – por vezes grotesca – de mim.
A partir dessas reflexões, percebi que há muito tempo eu estava me expondo demais e tornando explícitas coisas que não queria explicitar. Percebi que muitos estão me acompanhando, me seguindo, me espreitando, em silêncio. Pessoas não necessariamente indesejáveis, mas que estão próximas de algumas que o são. Em relação aos contatos, os chamados “amigos”, pensei que ter o máximo possível de contatos seria uma vantagem, pois assim seria mais difícil perder contato com as pessoas que gosto mas que estão longe. Isso faz sentido, mas há um alto preço a pagar: a exposição a nível exponencial. Somos celebridades dos nossos amigos virtuais. Eles são nossos paparazzi. Quanto mais pessoas, mais exposição. E isso, na minha situação, é desnecessário, é ruim. O prejuízo decorrente da exposição não compensa o prazer de se expor. Eu percebi que, se uma amizade quer se preservar, ela se preserva e ponto; não há necessidade de forçar o estabelecimento e a manutenção de um contato virtual. O laço afetivo precisa ocorrer naturalmente, mesmo que seja por meio virtual.
Com base nisso tudo, tomei a decisão de me limitar ao uso das redes – me reservar à condição de expectador – e excluir alguns contatos. Pessoas que não precisam e nem devem saber do que acontece na minha vida. Só não excluirei o blog, por enquanto, porque esse espaço ainda é muito importante e, por isso, indispensável. Ainda preciso escrever. E de qualquer forma sempre precisamos exercitar um pouquinho nosso narcisismo.

Para terminar, dou-me a liberdade de praticar apenas mais uma vez a exposição desnecessária citando algumas palavras que ouvi há alguns dias e que agora fazem muito sentido para mim: “Quando seus parentes começam a te adicionar em alguma rede virtual, é sinal de que essa rede já está ultrapassada.”

#fikdik

quinta-feira, 3 de março de 2011

Fuga


Preciso escrever. É o único jeito de trabalhar isso, de digerir isso. Mas não é a solução. A verdade é que eu preciso aprender a exercer poder. Não me conformo com o lugar que me é dado. Não me conformo com essas regras e hierarquias. A outra verdade é que eu não queria ser o que sou. Mas não sou uma pessoa íntegra porque sequer sei o que sou.

Todos sabemos qual é o nosso lugar, mesmo que isso não seja consciente (e geralmente não é). Sabemos que estamos num patamar desfavorável dessa hierarquia. Alguns de nós, inconformados com esse lugar de submissão, procuramos dominar outros. Esses outros são quase sempre os nossos iguais. Precisamos, de alguma forma, fazer com os que estão abaixo aquilo que aqueles que estão acima fazem conosco. Afinal, somos homens, independente de qualquer coisa. Fomos ensinados a agir assim, independente de qualquer coisa. Mas nós, os diferentes, estamos num meio termo, muito pior do que ser apenas dominado ou dominador. E eu, sempre do contra, resolvo inverter a lógica e dominar os dominadores. Quero lançar contra eles a minha frustração, minha inconformidade, minha inadequação, minha raiva. E uma das melhores maneiras de camuflar esses sentimentos é a piada, a chacota. Mas não consigo exercer uma relação de poder invertida porque tenho medo deles; temo a segurança e a comodidade daqueles que estão do ‘lado certo’. Percebo, também, que sou vazio a ponto de não ter minhas próprias falas. O medo continua presente, forte, está apenas em silêncio. Ele está vivo. Sinto vergonha.
É interessante como uma palavra tem diferentes usos e significados, mudando conforme enunciador, enunciado e grupo. Através de uma certa palavra, um deles faz questão de mostrar quem é o mais forte. Um deles deixa evidente, explícita, essa hierarquia maldita, fazendo-me lembrar qual é meu lugar. ‘Eu o chamo disso para te lembrar de que eu estou acima de você e não há como mudar isso.’

Não quero saber de mais nada, só quero sair daqui. Alguém me espera, mas desligo o celular. Não estou pra ninguém agora. Ele vai ficar muito chateado. Dane-se. Talvez essa seja uma boa vingança. Que infantil da minha parte.
Quero ir embora, preciso dormir. Amanhã será outro dia e isso passará. Só não me lembrem (sei que vocês me lembrarão). Que tristeza, que agonia...