sexta-feira, 24 de maio de 2013

Pensamento vazio

Tudo está tão repetitivo... Acho que é tudo uma questão de autonomia. A questão central é autonomia. Eu preciso aprender a me libertar. Preciso aprender a ter o que quero sem precisar de você, nem ninguém. Preciso aprender a me contentar com minha força, que não é pequena.

Talvez eu precise parar de escrever.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

À procura de Drummond


Easy now, take things slow
Less is more, more to show
Keep your cards to make your play
Don't need to get all the way
No need to try and nothing to do
“Easy Now”, Hundred Little Reasons.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Trecho do poema “Procura da Poesia”, Carlos Drummond de Andrade, “A Rosa do Povo”.

domingo, 12 de maio de 2013

Considerações de Drummond



Hello, come on in and take your coat off.
Would you like a cup of tea?
With milk and sugar.
How have you been?
“Small Talk”, Hundred Little Reasons.

Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Trecho de “Consideração do Poema”, Carlos Drummond de Andrade, “A Rosa do Povo”.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Palavras em silêncio



Não fale comigo, foi o que pedi. Estou chateado, com muita raiva. Preciso ficar só, preciso pensar, racionalizar isso. Mas você insistiu em me telefonar, em fazer o jogo se inverter, de me colocar numa situação ainda mais desconfortável, ainda mais agonizante.
Você acertou em cheio. Tocou minha ferida mais dolorida, nunca cicatrizada. Lembro-me daquela cena da infância, como se fosse hoje, como se estivesse acontecendo agora.
Você teme que eu deixe de amá-lo. Mas você não entende? O problema não é você. Feriu-me sem dar-se conta e quando me deu a oportunidade para fazer o mesmo, eu voluntariamente me desarmei, pois não sei como colocar o que sinto em palavras, não sei transformar uma dor em palavras que façam doer novamente. E te decepciono. Você me garantiu o direito da misericórdia final, mas eu preferi permanecer em silêncio. Tenho medo de que esse silêncio destrua o que nós construímos. Tenho medo de que o silêncio também me destrua.

Ao mesmo tempo em que essa ferida me aflige, ela me dá certo orgulho. Pois é ela que me torna único. Ela define parte de mim, me diferencia dos demais, revela que sou alguém com algo único, mesmo que esse algo não seja necessariamente bom.

Eu preciso fazer análise.