quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Por merecer

I fucked up
I made a mistake
Nobody does it better than myself
I'm sorry
I'm not afraid to say
I wish I could take it back but I can't
“I fucked up”, Madonna.

Há certos amores que de tão belos são impossíveis. Embora reais, são impossíveis porque não são amores merecidos. Por mais que se tente, é difícil fazer por merecer. É difícil estar à altura.
Provar o merecimento é um trabalho árduo e silencioso. Não se dá por meio de palavras, que, por mais bem intencionadas que sejam, doem na pronúncia. Há uma dor que permanece, uma dúvida, um medo de que a qualquer momento as trevas se ocupem de tudo outra vez. Se o amor é raro, aquele por merecer é ainda mais.
Quando maculamos o amor, temos a convicção de que não o merecemos mesmo que ele tenha nos escolhido. Passamos os dias em tensão, pensando em como melhorar a situação, como florear o caminho, até desejarmos não ter amor nenhum. Talvez a vida seja mais tranquila sem amor. Talvez seja melhor viver com quaisquer amores; seria uma vida rasa e limitada, mas sem nudez, sem lágrimas, sem vômitos, sem avalanches.
Em certas situações, o melhor a se fazer é desejar que o amor não merecido seja entregue para outro que realmente o mereça. O amor é tão bom que é de sua própria natureza perder-se.

Mas há momentos críticos em nossas vidas que nos fazem crer que não podemos abrir mão nem mesmo daquilo que não merecemos, daquilo que não somos dignos de possuir. É preciso pagar um preço para obter esse estranho direito, é preciso sofrer mais um golpe fatal.

Talvez nem a morte nos torne dignos de alguma coisa.

Porque meus olhos fechei
E sem rancor perdoei
Os seus crimes de amor
“Barulho”, Maria Bethânia.