I
made a mistake
Nobody
does it better than myself
I'm
sorry
I'm
not afraid to say
I
wish I could take it back but I can't
“I
fucked up”, Madonna.
Há
certos amores que de tão belos são impossíveis. Embora reais, são impossíveis
porque não são amores merecidos. Por mais que se tente, é difícil fazer por
merecer. É difícil estar à altura.
Provar
o merecimento é um trabalho árduo e silencioso. Não se dá por meio de palavras,
que, por mais bem intencionadas que sejam, doem na pronúncia. Há uma dor que
permanece, uma dúvida, um medo de que a qualquer momento as trevas se ocupem de
tudo outra vez. Se o amor é raro, aquele por merecer é ainda mais.
Quando
maculamos o amor, temos a convicção de que não o merecemos mesmo que ele tenha
nos escolhido. Passamos os dias em tensão, pensando em como melhorar a
situação, como florear o caminho, até desejarmos não ter amor nenhum. Talvez a
vida seja mais tranquila sem amor. Talvez seja melhor viver com quaisquer amores;
seria uma vida rasa e limitada, mas sem nudez, sem lágrimas, sem vômitos, sem avalanches.
Em
certas situações, o melhor a se fazer é desejar que o amor não merecido seja entregue
para outro que realmente o mereça. O amor é tão bom que é de sua própria
natureza perder-se.
Mas
há momentos críticos em nossas vidas que nos fazem crer que não podemos abrir
mão nem mesmo daquilo que não merecemos, daquilo que não somos dignos de possuir.
É preciso pagar um preço para obter esse estranho direito, é preciso sofrer
mais um golpe fatal.
Talvez
nem a morte nos torne dignos de alguma coisa.
Porque
meus olhos fechei
E
sem rancor perdoei
Os
seus crimes de amor
“Barulho”,
Maria Bethânia.