quinta-feira, 28 de abril de 2011

Amores e telefones


“Quando ela pensa em beijar seu travesseiro, eu me viro do avesso... eu vou dizer aquelas coisas, mas na hora esqueço.” “Por que não eu?”, Kid Abelha.

O telefone toca sei lá pela milésima vez e não quero falar, não quero ouvir. Não gosto de telefone. Não gosto de ouvir essa breve ‘musiquinha’ a todo o momento e me sentir cerceado, preso. Mas talvez não queira mais saber dessas coisas de paixão. Ou talvez eu nunca tenha de fato desejado isso.
Andei refletindo e acho que a verdade é que isso não é simplesmente um trauma de amor. A solução seria simples demais e se daria sem esforços. Não é por não ter sido amado no momento certo que agora não me dou à liberdade disso. Também não creio que minha preferência seja a de amores tortuosos ou impossíveis, como pensei anteriormente. Sinto que não me deixo ser levado, que só quero o impossível porque é o impossível que me permitirá permanecer no meu canto, imóvel, num estado egoísta, quase infantil. Amar o impossível é a forma que encontrei de não amar. Amar aquilo que não se move é o que garante minha imobilidade. A verdade é que não quero amar.

How come the only way to know how high you get me is to see how far I fall. God only knows how much I'd love you if you'd let me but I can't break through it all.” “Heartbreak Warfare”, John Mayer.

Pela primeira vez, deparo-me com essa evidência, estupefato. E é curioso como um insight se segue a outro. Se o amor é uma ameaça ao meu estado imóvel e infantil, que eu possa então, para sair desse estado, me entregar; que eu possa então deixar isso acontecer, e me mover, e sair daqui, e refazer meu tempo e meu mundo. É preciso, portanto, atender ao telefone.

2 comentários:

  1. Ai, meu querido... A cada dia que passa, acho que o amor é um ente sobrenatural, incontrolável por nós. Se amamos, não somos correspondidos. Quando somos amados, não amamos. E assim vamos vivendo os dias, balançando entre o amor e o não-amor. Qual deles escolher? Podemos escolher? O que o outro vai escolher? Humm, que agonia...
    Se pudesse escolher, preferiria o amor correspondido. Mas este é difícil de encontrar e acho que mais uma vez não o encontrei.
    Enfim, é continuar vivendo. Amando. Não-amando.

    Abração

    P.S.: Desculpe o momento desabafo! ;)

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  2. extraordinário, mais uma vez. me trouxe angústia ler esse texto, pois atingiu meu nervo. pra mim, o amor é, em si, traumático. talvez agora eu saiba porquê.

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