Não
fale comigo, foi o que pedi. Estou chateado, com muita raiva. Preciso ficar só,
preciso pensar, racionalizar isso. Mas você insistiu em me telefonar, em fazer
o jogo se inverter, de me colocar numa situação ainda mais desconfortável,
ainda mais agonizante.
Você
acertou em cheio. Tocou minha ferida mais dolorida, nunca cicatrizada.
Lembro-me daquela cena da infância, como se fosse hoje, como se estivesse
acontecendo agora.
Você
teme que eu deixe de amá-lo. Mas você não entende? O problema não é você.
Feriu-me sem dar-se conta e quando me deu a oportunidade para fazer o mesmo, eu
voluntariamente me desarmei, pois não sei como colocar o que sinto em palavras,
não sei transformar uma dor em palavras que façam doer novamente. E te
decepciono. Você me garantiu o direito da misericórdia final, mas eu preferi permanecer
em silêncio. Tenho medo de que esse silêncio destrua o que nós construímos. Tenho
medo de que o silêncio também me destrua.
Ao
mesmo tempo em que essa ferida me aflige, ela me dá certo orgulho. Pois é ela
que me torna único. Ela define parte de mim, me diferencia dos demais, revela
que sou alguém com algo único, mesmo que esse algo não seja necessariamente bom.
Eu
preciso fazer análise.
E eu simplesmente te amo.
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