As portas estavam fechadas para mim, mas
agora estão se abrindo. É difícil sair do inferno e passar pelas portas
entreabertas. Mas o destino, o acaso, ou sabe-se lá o nome que se deve dar,
sempre nos pega de surpresa. É preciso atenção, é preciso cuidado, é preciso
delicadeza para perceber os movimentos e as formas que o destino toma. As
linhas do acaso podem operar a nosso favor, não sei como e nem estou seguro
disso.
Na bela e antiga igreja, sento-me e
pergunto às forças se elas me entendem, se elas pensam, se há um sentido em
tudo isso. Depois de tudo que passei, pensei que me tornaria um ser humano
melhor, mas agora só há lástima e pesar... Há uma tensão, uma melancolia que
acompanha meus passos pela cidade pretensamente europeia. Silêncio entre os
santos e heróis argentinos. Resta-me pedir por sabedoria. Eu desejo sabedoria
para poder viver com mais leveza.
Não há amor em Buenos Aires, nem
dinheiro, nem glamour. Caminhando, sentindo as cicatrizes doerem, passo por uma
manifestação: Dez anos de Cromañon, tragédia na qual mais de 190 jovens
morreram em um incêndio durante um show de rock. Abraços e lágrimas por toda
parte. Era como reviver Santa Maria dez anos depois. São precisos dez anos para
reelaborar uma tragédia, uma experiência de perda ou de quase morte. Arte,
dança, música, política e revolta. O tempo permite ressignificar a dor que, não
obstante, nunca deixará de ser dor. A dor cria coisas novas, produz caminhos
possíveis. É possível sair das trevas. Os profetas sempre vêm.
“Porque ser sobreviviente es convivir
com un duelo propio, es seguir en el día a día con un silencioso abismo que
tiene como epicentro el instante mismo de la tragedia.” Exposição de Fotografia
“La Propia Ausencia”, de Ignacio Coló.
“Las puertas están cerradas”, dizia a
letra da música. Não, as portas estão se abrindo. Já é possível ver a luz lá
fora.
Se estiverem fechadas, chute, arrombe! Mas não deixe a melancolia tomar conta. ;)
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