sexta-feira, 12 de março de 2010

Saudade

“Homesick... ‘cause I no longer know where home is.” “Homesick”, Kings of Convenience.

Enquanto assistia a cerimônia do Oscar, uma coisa me impressionou, me chocou. Vi algo que me tocou de tal forma que não consigo pensar em outra coisa.
“Which Way Home” era um dos indicados a melhor documentário em longa metragem. É um filme que mostra a jornada de crianças desacompanhadas que tentam atravessar ilegalmente a fronteira do México com os EUA. Em uma das cenas exibidas havia um menino, cerca de dez anos, chorando. Uma mulher pergunta há quanto tempo ele não via a mãe. Ele responde em espanhol, com a voz quebrantada: “Há três anos”.
Aquilo mexeu tanto comigo que não consegui prestar mais a devida atenção à premiação, nem cheguei a me revoltar quando “Guerra ao Terror” levou a estatueta de melhor filme.
Por um momento vislumbrei meu futuro. E me senti bem ao me imaginar lutando por essas crianças. Eu me vi lutando por pessoas que não tem para onde ir, pessoas que são privadas de seus direitos, de sua dignidade. Eu me vi lutando em defesa de minorias. Eu senti que precisava sair do meu comodismo e fazer algo realmente útil. Já disse aqui que tenho medo da morte vazia. Tenho medo de que minha vida seja em vão, de que ela não passe de um desperdício. E, ironicamente, sinto que minha vida pode fazer algum sentido se eu me voltar à máxima cristã, para a qual, no passado, virei as costas: amar o próximo como a si mesmo. Isso é importante, muito mais importante do que se esconder atrás de um pesado livro sagrado e só dizer que a tendência é as coisas piorarem. Eu sei que as coisas vão piorar, mas isso não é desculpa. Temos que fazer algo. Eu preciso fazer algo.
Aquele menino estava num país estrangeiro, passando sabe-se lá o quê, e não via a mãe há três anos. Uma criança que não via a mãe há três anos. A dor em sua voz era quase palpável.
Também pensei em minha mãe naquela hora. Eu me dei conta do quanto eu a amo e do quanto sinto a falta dela. Queria poder vê-la, agora. Queria me desculpar por minha arrogância, por muitas coisas. Queria que ela sorrisse pra mim, que não me olhasse da maneira que imagino estar me olhando agora.

O silêncio diz tudo. O silêncio revela a dor que ela sente. E eu não posso fazer nada. Nada.

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