sábado, 29 de outubro de 2011

Esboço de uma auto-análise III

É porque fui ferido no passado que hoje não quero mais o possível. É isso. Amo aquilo que é impossível, para que continue impossível. Para que não haja possibilidade de mais um golpe, de mais sangue. Mas sempre prefiro o risco, o que revela esse componente masoquista de minha personalidade. Estou triste por não saber conduzir as coisas por outro caminho. Odeio isso. Odeio mais porque de certa forma quero isso.
Eu era uma criança inocente e boba, que foi machucada. Atirei-me no fogo e quase morri. E hoje tento preservar essa criança, apenas cerceando o fogo. Não me atrevo a pular, não como antes. Apenas rodeio a fogueira, fingindo que vou pular, sentindo o calor, quase me queimando, numa tensão excitante, num jogo de sedução quase mortífera. Eu, criança, e o fogo que me destrói. Mas também sou o fogo, sou a destruição que há nele. Mas separar os dois é a forma que encontrei para salvar a criança. Esta parece não crescer.
Mas há um terrível fato que não posso ignorar: se a criança não cresce, ela precisa morrer.

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