quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Por que não falamos dela?

“* EIS UM PEQUENO FATO *
Você vai morrer.”
“A menina que roubava livros”, Markus Zusak.

É assim que a Morte começa a contar a história. Antes de tudo, ela quer deixar bem claro ao leitor o quanto os dois estão próximos, o quanto aquela história pode ser familiar.
Fato é que a maioria das pessoas evita pensar na própria morte, pelo menos conscientemente. Eu me incluo nessa maioria. Tenho horror só de pensar no pensar da minha morte. Quando criança, eu tinha medo não somente de morrer, mas morrer com dor. Hoje, meu medo não se resume ao medo da dor, meu medo é o medo do fim. Como disse há alguns dias, medo do fim vazio. Pense bem, a qualquer momento você não existirá mais. Sua história acabará, e o mundo continuará. Talvez você seja lembrado, talvez não. Talvez sua existência tenha tido alguma importância, talvez não. E o que vem depois? Ah, sim, aquela velha pergunta. Existe vida após a morte? Se for a vida prometida pela Bíblia, muito obrigado, não quero. O céu é perfeito demais, e o inferno é desesperador demais. Não há equilíbrio em Deus. Nem no diabo.
Às vezes fico imaginando o inferno citado na Bíblia. Deus do céu, imagine, sentir todo seu corpo em brasas, por toda a eternidade. É preciso uma força sobre-humana para não se deixar afligir por essa imagem, ainda mais quando a enfiam na sua cabeça desde pequeno.
Problema maior é decidir quem vai para onde. Os judeus do Velho Testamento foram para o céu? Todos os gentios dessa época foram para o inferno? Depois de Cristo, só foram para o céu os que acreditaram nele? E quanto aos povos que não conhecem as boas-novas, eles vão para o inferno sem ter o direito de escolha, sem ao menos saber que existe um céu e um inferno cristãos? Talvez algum teólogo, padre, pastor, alguma merda dessas, responda que eles foram para o céu, mesmo não aceitando Cristo, por não terem ouvido as boas-novas, e por isso serem inocentes. Ora, a partir do momento que eu conheço Cristo, tenho que aceitá-lo. Senão irei para o inferno! Então, é melhor nunca ter ouvido falar dele, pois assim não arriscarei minha salvação! Cristo, por acaso, é a árvore do conhecimento, aquela árvore do jardim do Éden, do fruto proibido? Cristo nos leva para o inferno?

Afinal, existe vida após a morte? O que é a morte?

Ninguém escapa dela. É por isso que as histórias de ressurreição impressionam tanto. A ressurreição. O retorno.
Grandes homens e mulheres, grandes pensadores, que mudaram a história, se curvaram diante da morte. Muitos até a procuraram. Sim, suicídio.
Outra questão que me impressiona. O que leva uma pessoa a tirar a própria vida? Como disse no início, as pessoas não pensam na própria morte, conscientemente. Mas todos fantasiam a própria morte. Nossa morte está viva em nosso inconsciente. Todos nós somos, num certo grau, suicidas.
É melhor eu parar de escrever essas coisas. Você deve estar assustado, ou incomodado, com essas palavras. Vou parar, prometo. Só mais uma coisa: se o que está escrito aqui te incomoda, é porque, de alguma forma, isso tem relação com você.

Um comentário:

  1. Acho que uma boa forma de diminuir o medo da morte é não permitir que ela seja uma morte vazia. Ou seja, faça tudo que tiver de fazer. Faça história, para que seja lembrado. Sócrates disse que ter filhos é uma forma de encontrar a imortalidade uma vez que os filhos são uma parte de você. Sinceramente, acho que há outras maneiras menos sacrificantes e dispendiosas de se eternizar.

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