sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O primeiro, o segundo e a norma

Um é bom demais. O outro é de menos. Na verdade, não sei. Não posso colocar as coisas assim, de maneira simétrica, como se elas fossem totalmente opostas. Cada um tem suas qualidades e seus defeitos. Depende do ângulo.
A questão é que o primeiro está financeira, psicológica e culturalmente muito à frente de mim. O segundo não liga muito pra algumas coisas. Mas não é só isso. Talvez eu tenda mais para o segundo porque sei, embora não admita, que prefiro me sentir “por cima”. Eu não gosto de me sentir “por baixo”, e sei que, com o primeiro, isso irá acontecer.
Uma pessoa se irritou comigo. Disse que eu reclamo demais, que me preocupo demais. Sobre essa questão, disse que eu deveria “deixar levar”, que eu estava me precipitando, que não teria como já me decidir. Ele está certo, mas eu sou assim e não consigo ir contra mim mesmo. Enquanto todos dançavam e procuravam por uma companhia fútil e sexual, eu fiquei ali, sentado, frustrado, me perguntando por que tanta coisa me acontecia, por que eu via tudo tão complicado, por que eu não conseguia ser sincero com as pessoas e comigo mesmo, por que aquele lugar, que deveria ser o exemplo de respeito pelo próximo, era um antro de preconceito, recheado de gente estúpida que passa a noite desfilando com suas blusas superestampadas. E por que eu me sentia tão merda?

Eu penso demais em mim mesmo.

Sim, eu penso demais em mim. E a coisa piora quando observo os outros. Digo que essas pessoas são estúpidas, mas não consigo deixar de me espelhar nelas e ver que não estou dentro do padrão. Por mais que eu entenda que a norma existe justamente para ser transgredida, por mais que eu acredite que devamos ser críticos em relação a ela, eu sofro por estar, de certa forma, fora dela. Eu fico feliz por ver coisas que outras pessoas, por estarem dentro da norma, não vêem, mas também sofro por isso. Como diz Foucault, a liberdade é algo muito sofrido, muito árduo, pois ser livre significa viver de maneira única, inovadora, todos os dias. Mas só porque falo de liberdade não significa que eu me sinta livre.

Eu sou um imbecil porque acho que sei de alguma coisa.

Não posso ficar me enganando. Não posso fingir, esconder meus pensamentos de mim mesmo. Eu não consigo parar de pensar no primeiro e no segundo. E também no terceiro.

2 comentários:

  1. Por quê será que eu leio isso "porque aquele lugar que deveria ser um lugar de respeito pelo próximo...camisetas estampadas" e lembro do IP? rs

    Me identifiquei com o post, apesar de não saber quem é o primeiro e o segundo. Também penso muito em mim mesma. E ninguém gosta de se sentir por baixo. ;)

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