quinta-feira, 10 de junho de 2010

O sol


“Já cansei de me trancar, vou me atirar... já cansei de me prender. Quero aparecer, aparecer...” “Eu quero ir pra rua”, Paula Toller.

Muito frio. Naquele último dia, eu precisava sair. Eu precisava aproveitar o resto de sol, um sol que parecia se despedir; parecia dizer que não voltaria tão cedo.  Não havia por que ficar trancado. Que vida é essa? Não poderia mais ficar ali, escondido, “produzindo” coisas que poderiam esperar para serem “produzidas”. Ficar tanto tempo trancado não é bom. O sol estava se despedindo. Quem sabe pra sempre. Eu tinha que sair um pouco.
Coloquei um casaco, peguei uma revista e saí, correndo na direção da praia, contando os minutos. Ele vai embora a qualquer momento. Ruas frias, vazias, tristes. Encontrei o sol na praia, fraco, mas não o bastante para me aquecer. Eu precisava muito de você, sol. Eu precisava muito desse ar de fora. Sentei num banco de pedra em frente à praia de Icaraí e comecei a ler minha revista, algumas vezes reparando os poucos transeuntes e pensando na vida. Só depois de um tempo olhei para o outro lado da Bahia e reconheci o Pão de Açúcar, tão imenso, tão belo. Olhei para toda a extensão da praia até o Museu e a ilha de Boa Viagem. É engraçado como um momento tão bobo e comum pode, tão de repente, significar algo tão bom.

Como pode um fato isolado e sem importância se tornar um momento de felicidade rara e repentina? 

Eu voltei passando mais uma vez pelas ruas frias e mortas. Olhando para as vitrines, admirando as coisas que jamais poderia comprar. Fazendo contas. Preciso de roupas. Estou endividado. Enfim, nada é perfeito.

Que a vida seja feita de momentos assim. E que esses momentos não sejam esquecidos. É tudo que desejo.

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