quinta-feira, 3 de março de 2011

Fuga


Preciso escrever. É o único jeito de trabalhar isso, de digerir isso. Mas não é a solução. A verdade é que eu preciso aprender a exercer poder. Não me conformo com o lugar que me é dado. Não me conformo com essas regras e hierarquias. A outra verdade é que eu não queria ser o que sou. Mas não sou uma pessoa íntegra porque sequer sei o que sou.

Todos sabemos qual é o nosso lugar, mesmo que isso não seja consciente (e geralmente não é). Sabemos que estamos num patamar desfavorável dessa hierarquia. Alguns de nós, inconformados com esse lugar de submissão, procuramos dominar outros. Esses outros são quase sempre os nossos iguais. Precisamos, de alguma forma, fazer com os que estão abaixo aquilo que aqueles que estão acima fazem conosco. Afinal, somos homens, independente de qualquer coisa. Fomos ensinados a agir assim, independente de qualquer coisa. Mas nós, os diferentes, estamos num meio termo, muito pior do que ser apenas dominado ou dominador. E eu, sempre do contra, resolvo inverter a lógica e dominar os dominadores. Quero lançar contra eles a minha frustração, minha inconformidade, minha inadequação, minha raiva. E uma das melhores maneiras de camuflar esses sentimentos é a piada, a chacota. Mas não consigo exercer uma relação de poder invertida porque tenho medo deles; temo a segurança e a comodidade daqueles que estão do ‘lado certo’. Percebo, também, que sou vazio a ponto de não ter minhas próprias falas. O medo continua presente, forte, está apenas em silêncio. Ele está vivo. Sinto vergonha.
É interessante como uma palavra tem diferentes usos e significados, mudando conforme enunciador, enunciado e grupo. Através de uma certa palavra, um deles faz questão de mostrar quem é o mais forte. Um deles deixa evidente, explícita, essa hierarquia maldita, fazendo-me lembrar qual é meu lugar. ‘Eu o chamo disso para te lembrar de que eu estou acima de você e não há como mudar isso.’

Não quero saber de mais nada, só quero sair daqui. Alguém me espera, mas desligo o celular. Não estou pra ninguém agora. Ele vai ficar muito chateado. Dane-se. Talvez essa seja uma boa vingança. Que infantil da minha parte.
Quero ir embora, preciso dormir. Amanhã será outro dia e isso passará. Só não me lembrem (sei que vocês me lembrarão). Que tristeza, que agonia...

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