sexta-feira, 10 de setembro de 2010

No limbo


Alguns autores da Psicologia, especialmente os da abordagem estruturalista, defendem que o indivíduo não consegue pensar e representar o mundo se não for através da lógica binária. É gordo ou magro, é alto ou baixo, é masculino ou feminino. Não há um meio termo para as coisas.
Mas me pergunto até que ponto isso é verdade. De fato, é assim que tudo se orienta à nossa volta. Mas e quando você não consegue se orientar apenas por essa lógica, quando não consegue se encaixar nela? Sabe aquela sensação estranha e incômoda de que você não vê apenas o 8 ou o 80? Isso é algo bom ou ruim? Talvez um pouco dos dois.
É bom porque você pode tirar proveito dessa análise vendo coisas que as outras pessoas não vêem. É ruim porque você não consegue se orientar, você se perde. Precisamos de um amparo por mais que ele seja deficiente e limitador. Nós precisamos de uma lógica, mesmo que ela seja excludente, perversa, estúpida.
Sem a lógica binária, eu me perco, mas não me contento em ser orientado por ela. E não consigo me ver nela. Não quero me enquadrar nela. Eu transito entre os pólos. Estou entre o gordo e o magro, o alto e o baixo, o masculino e o feminino. Sou um pouco de cada coisa e um pouco de tudo. Cada pólo tem suas regras. Regras que eu não respeito. Eu avanço os limites dos pólos. Vou de um a outro, ou então fico no meio, no limbo.
Parece que sou diferente. Ou não. O significado dessa minha incompatibilidade pode estar naquilo que é comum a todos nós: o ódio ou aversão ao que é diferente.

Mas o que devo fazer? Tentar me contentar com o que é comum, rejeitar de vez o diferente e assim me enquadrar? Ou seguir o caminho oposto, rejeitando o comum e abraçando o diferente? Acho que nem um nem outro. Não me adéquo a nenhuma dessas opções. Acho que minha sina é transitar, cambalear, entre esses dois caminhos.

Então continuarei assim, no limbo, transitando, cambaleando.

Um comentário:

  1. Gente no meio termo são a chave pro sucesso e prazer. Bem bobos são os radicais da tal "lógica" ou os que não tiram a viseira que impede de olhar pros lados.

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