sábado, 28 de julho de 2012

Guerra de carnes V

“Vou armado de dentes e coragem, vou morder sua carne selvagem.”
“Caçada”, de Chico Buarque.

Vamos devagar, devagar, estou pegando o jeito, devagar, devagar. Mas sem parar, sem parar. Agora vamos, rápido, rápido, já cansei dessa demora, já cansei, já cansei.

O ritmo é o mesmo, mas agora tudo se tornou tão frenético que não posso mais parar, não posso mais pensar. O jogo é sempre difícil porque há certo medo e não sabemos o que pensamos ou o que queremos. E chega o momento em que é preciso ser ousado, abusado, e então o tempo corre.

Observo você. Como será nossa linguagem? Como se dará o encontro de nossos corpos? Há uma lógica que impera, que não podemos negar. Ela se faz presente nos olhares e gestos mais sutis. Tentamos decifrar o que um e outro querem. O segredo me excita.

Não faça assim, faça assim. Em meio à loucura e ao suor, tenho a incrível descoberta: a despeito de qualquer gramática sexual, a palavra final é minha; portanto, eu mando e você obedece. E toda lógica que aprisiona se inverte. Eu mando e você obedece.

Você não vê? É preciso mais do que desenvoltura e ousadia. É preciso ter certa maldade para viver essa vida.

“Hoje é o dia da graça, hoje é o dia da caça e do caçador.”

Eu sou a caça que devora o caçador.

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