“Caçada”,
de Chico Buarque.
Vamos
devagar, devagar, estou pegando o jeito, devagar, devagar. Mas sem parar, sem
parar. Agora vamos, rápido, rápido, já cansei dessa demora, já cansei, já
cansei.
O ritmo
é o mesmo, mas agora tudo se tornou tão frenético que não posso mais parar, não
posso mais pensar. O jogo é sempre difícil porque há certo medo e não sabemos o
que pensamos ou o que queremos. E chega o momento em que é preciso ser ousado,
abusado, e então o tempo corre.
Observo
você. Como será nossa linguagem? Como se dará o encontro de nossos corpos? Há
uma lógica que impera, que não podemos negar. Ela se faz presente nos olhares e
gestos mais sutis. Tentamos decifrar o que um e outro querem. O segredo me
excita.
Não faça
assim, faça assim. Em meio à loucura e ao suor, tenho a incrível descoberta: a
despeito de qualquer gramática sexual, a palavra final é minha; portanto, eu
mando e você obedece. E toda lógica que aprisiona se inverte. Eu mando e você
obedece.
Você não
vê? É preciso mais do que desenvoltura e ousadia. É preciso ter certa maldade
para viver essa vida.
“Hoje é
o dia da graça, hoje é o dia da caça e do caçador.”
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