sábado, 29 de setembro de 2012

Amores dúbios


“Rir é quase iludir, é querer forçar
O próprio coração a gargalhar
Quando ele está solitário na dor
A soluçar de amor”
“Lágrima”, Maria Bethânia.

Seria muito desconfortável se me sentasse à frente dos dois. Os dois, de uma vez. Mas colocando-os assim, frente a frente, pelo menos em minha mente, talvez me ajude a racionalizar esta coisa toda, se é que isso é coisa que se racionalize.
Um tão longe e que me ama, outro tão perto e não quer saber de mim. É fato que meu desejo se orienta pelo improvável ou impossível, meu desejo é pelo não, mas pergunto-me se é possível amar duplamente. Mas logo me lembro de que o verbo amar não pode ser usado a torto e a direito, ele não pode ser usado para qualquer um. E sem dúvida não deve – ou não deveria ser – usado para quem está perto e faz questão de parecer que está a anos-luz de distância.
Mas talvez esse amor duplo esconda o fato de que ambos os amores sejam dúbios, ou sazonais, ou não sei. Só sei que amo, e quando penso em um, não consigo pensar em outro, não quero pensar em outro, em mais nada. Parece-me que procuro um amor que não me toque, que me machuque em seu silêncio, um amor que não volta.
Há um mistério nessa dor, há uma estranheza em toda essa agonia. Quero que isso pare, quero esquecer e voltar para o amor que não é dúbio. E então me lembro do medo de me sufocar. Lembro-me de que a solidão me seduz. E ela está me seduzindo. Não quero mais amar.

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